Essa pesquisa trata da temática Urbanismo e Gênero direcionada para o contexto do Plano Piloto de Brasília, com um recorte transversal na Asa Norte do Plano Piloto de Brasília, envolvendo desde as novecentos até a orla do lago Paranoá na altura das quadras de final 15 e 16, a fim de demonstrar a aplicabilidade de táticas urbanas no formato de padrões espaciais. Dentro dessa área, o objetivo é demonstrar a análise da mobilidade urbana, inclusão e democracia dos espaços públicos com foco no trajeto transversal – sentido leste oeste – sob a perspectiva do pedestre e com o levantamento de questões de gênero e das minorias sociais.
Devido ao notório privilégio dado aos automóveis em Brasília, observam-se espaços públicos de baixa qualidade e infraestrutura inadequada especialmente para os pedestres. Dessa forma, as pessoas que não podem arcar com os custos de um carro ou optam por outro meio de locomoção enfrentam um transporte público ineficiente e condições desconfortáveis e muitas vezes inseguras nos trajetos a pé ou de bicicleta.
Assim, este trabalho pretende demonstrar os percursos transversais feitos pelo pedestre e os espaços públicos de permanência avaliando o desempenho sob a perspectiva do usuário. Usuário este que expressa a demanda e expectativa de diferentes grupos sociais, como mulheres, crianças, idosos, negros, homossexuais, transgêneros, pessoas com diferentes níveis de renda, moradores de rua etc.
A fim de guiar o processo desse projeto, foram estudadas diversas experiências que vêm tomando forma em todo o mundo. Experiências que buscam transformações no cotidiano da vida urbana a partir do envolvimento dos usuários, propondo mudanças mais palpáveis e realistas em uma escala local, para gradativamente mobilizar mais pessoas e assim alcançar mudanças maiores.
De modo geral, os urbanistas costumam projetar intervenções em grande escala, a fim de alcançar mudanças qualitativas em um contexto urbano geral. Nos últimos anos, acompanhados de uma grande crise econômica mundial, vêm surgindo diversas iniciativas populares de menor escala com o propósito de melhorias dos espaços públicos. Esse processo é denominado de Urbanismo Emergente ou Urbanismo Tático, que se baseia na participação da população como ponto importante na construção da cidade. Podemos resumir o conceito de Urbanismo Emergente como uma definição do papel dos cidadãos como produtores de uma cidade, uma lógica de baixo para cima, bottom-up, em oposição à visão top-down, de cima para baixo, da planificação urbanística tradicional.
O pensamento bottom-up permite que os problemas sejam pensados pelos próprios moradores, dando a eles voz e ferramentas para que façam, por si mesmos, as mudanças necessárias para a melhoria do espaço público que utilizam. A lógica é não esperar que as mudanças ocorram, visto que a vontade pública, via de regra, demora a ser transformada em política pública, justamente por serem relegadas ao segundo plano frente a necessidades urbanas/sociais outras, mais emergentes a um nível macro. Fato este que gera o atraso para mudanças significativas em âmbito local, em alguns casos beirando o abandono.
Esperar que a iniciativa venha do topo para baixo, top-down, faz com que a população atingida enfrente cotidianamente problemas de zoneamento urbano, iluminação, acessibilidade, entre outros, sem perspectiva de melhoras ou correção. Muitas vezes essa habituação leva as pessoas a considerarem como normal o descaso com que seus problemas são tratados, causando um certo desamparo, afinal, quem irá resolvê-los?
“A cidade é assim mesmo” “Isso nem é tão importante, o governo tem coisas maiores pra resolver”. Pois, então, que os cidadãos por si mesmos resolvam as questões que estão ao seu alcance, há muito o que pode ser feito, e desacostume-se, empodere-se, perceba como problema o que o hábito tornou normal.
As cidades foram construídas à margem e semelhança dos homens, que consolidaram seu direito ao espaço público, sendo até pouco tempo inimaginável para uma mulher sair de casa desacompanhada. Assim, faz-se necessária uma desconstrução da lógica organizacional das cidades tradicionais, de modo a se repensar e reconstruir espaços sem gênero ou ordem patriarcal, onde mulheres possam se sentir não só seguras, mas também parte essencial da vida urbana, como os homens já o são. Só assim teremos espaços horizontais, que evidenciam as diferenças pessoais, e não as desigualdades sociais.
A segurança e a percepção da cidade são muito diferentes para as mulheres e para os homens, de maneira que é importante que se conheçam suas experiências ao planejar espaços públicos. Usos, limites transparência, visibilidade e iluminação são variáveis que devem ser levadas em conta de acordo com a experiência das mulheres (MUXÍ, 2014).
Brasília, cidade dominada pelos automóveis, a cidade das longas distâncias e da ineficiência do transporte público. Longas distâncias que foram impostas à cidade desde o seu nascimento, como uma doença contraída em sua gestação. As longas distâncias entre as moradias e o centro funcional, ponto em torno do qual se concentra a maioria dos empregos e serviços, aliada à ineficiência do transporte público coletivo resulta na preferência pelo uso de veículos particulares pelos moradores das áreas mais distantes. Contudo, observa-se o uso prioritário do transporte particular também pelos moradores do Plano Piloto sob o mesmo discurso das longas distâncias de Brasília. Na verdade, quando comparamos essas distâncias com as mesmas em outras cidades onde há condições de urbanidade que favorecem o trânsito de pedestre, notamos que os trajetos são bastante curtos e poderiam ser percorridos em pouco tempo.
Os moradores do Plano Piloto não andam a pé. Mesmo em pequenos trajetos estão sempre dependentes de veículos motorizados. Dessa forma as ruas ficam vazias de pessoas. Não há vitalidade, não acontecem encontros e trocas nos espaços públicos... as ruas não oferecem infraestrutura adequada para os pedestres. Todo o espaço público é dominado pelos automóveis e por grandes vazios urbanos na forma de descampados ou cinturões verdes que integram a escala residencial do Plano Piloto. Áreas extremamente privilegiadas e exclusivas de Brasília, um grande potencial subutilizado. Grandes áreas mortas que trazem medo e insegurança. Assim, identificou-se as barreiras que impedem que os brasilienses vivenciem e experimentem a cidade de forma mais ativa, iniciando o movimento de ocupação dos espaços públicos, tornando-os vivos e dinâmicos.
O avesso de Brasília ao avesso - O manueal colaborativo de ocupação do Conic
Eduarda Aun
Localizado no centro de Brasília, o Setor de Diversões Sul, mais conhecido como Conic, foi concebido por Lucio Costa como um lugar sofisticado e cosmopolita, que abrigasse funções voltadas ao comércio e ao entretenimento. Hoje é considerado por muitos como o avesso de Brasília. Devido a irregularidades durante a sua construção e principalmente aos usos e apropriações do espaço ao longo da sua história, é um lugar esquecido por boa parte da população e principalmente pelas autoridades locais.
Por um lado, este abandono acabou gerando um espaço único em Brasília que reúne muita diversidade social e cultural. Por outro, o descaso acabou gerando uma imagem negativa no imaginário da população, além de sobras espaciais e lugares ociosos que poderiam ser melhor aproveitados. No entanto, é preciso intervir de maneira delicada e consciente para que no processo de melhoria do espaço, não ocorra um processo de gentrificação, descaracterizando o Conic que conhecemos hoje. Neste contexto, o projeto reforça soluções que envolvem a participação da comunidade, o urbanismo tático e a arte urbana como orientações da regeneração urbana e da valorização do Conic por meio de intervenções interativas, estruturas temporárias, mobiliário urbano com reutilização de materiais e pinturas de pavimento e empenas, visando intervenções de baixo custo mas com grande impacto. Sendo um espaço de encontro, de criação artística, de engajamento social e político e de diversão e lazer, a ideia é transferir essas qualidades para fora, ou seja, virar o Conic ao avesso.
Metodologia
O trabalho começa com o estudo da história do Setor de Diversões Sul, os seus usos ao longo dos anos e as apropriações dos espaços, configurando o Conic que conhecemos hoje. Foram verificados recortes de jornais, trabalhos que tratam do tema e a opinião de pessoas para entender tanto a construção do imaginário do Conic na cidade quanto as suas verdadeiras problemáticas. A imagem de um lugar decadente e marginalizado, contraposta à de um lugar de diversidade cultural ajudou a traçar os conceitos nos quais o projeto se embasou, entre eles: Ocupe o Conic!, Faça-você mesmo!, Bora participar! e Plante Arte! A ideia de ocupar um espaço subutilizado ou com potencial pouco aproveitado aliado à nova forma de ver e intervir no espaço público por meio da participação dos usuários do Conic é o que orienta este trabalho. A abordagem utilizada inspirou-se em diversos trabalhos, entre eles, o Caderno Calafate, do coletivo Micrópolis (UFMG); o Manual de Mapeo Colectivo, do grupo Iconoclasistas (Argentina) que trabalham com mapeamentos experimentais que põem em relevo as potencialidades do bairro, na contramão dos diagnósticos urbanísticos que apontam somente as mazelas do espaço a serem resolvidas.Tratando-se de um projeto para um lugar tão polêmico como o Conic, foi importante entender a problemática que envolve a intervenção, tentando respeitar as contradições encontradas, no que se refere à implantação e à relação com a população existente. Para começar o projeto, foi necessário conhecer o lugar e o que ele pôde revelar, por meio da análise de aspectos físicos e seus usuários e suas ações no cotidiano, por meio da análise de aspectos socioculturais. A aproximação e a participação da comunidade do Conic permitiu entender, ainda, as verdadeiras necessidades e aspirações dos usuários, em um processo de baixo para cima. Foi a relação entre a comunidade e seu ambiente que definiu as intervenções que foram propostas.
O projeto, por sua vez, foi dividido em quatro diferentes momentos:
1 • Desenvolvimento do Guia de Bolso do Conic;
2 • Elaboração das diretrizes gerais de intervenção no Conic;
3 • Requalificação das praças e espaços públicos de acesso ao Conic;
4 • Requalificação dos espaços públicos do interior do Conic com o uso de estruturas temporárias e mobiliário flexível
Resultados
Nos diálogos estabelecidos e na pesquisa realizada, o que se percebe é por um lado um medo e um certo preconceito em relação do Conic e por outro, uma tentativa de combatê-lo. Ainda que a polícia considere o Conic como um dos lugares menos violentos da zona central, existe ainda a imagem de um lugar inseguro, principalmente para aqueles que não frequentam o Conic no dia-a-dia. Isto pode ser justificado pela sua arquitetura pouco convidativa, pelo pouco conhecimento que se tem do lugar, ou pela imagem disseminada pelos veículos de comunicação nos últimos anos.
Em virtude desta problemática, surge a ideia de criar um Guia de Bolso do Conic, que conta com imagens e conteúdo sobre a sua história, desde a concepção por Lucio Costa às apropriações atuais; além de dicas de quem frequenta o Conic e memórias de quem o frequentou. O guia colaborativo, elaborado em conjunto para valorizar a diversidade do Conic, tem a intenção de resgatar a sua memória e disseminar a imagem do Conic hoje, virada ao avesso.
O abandono, a má conservação e a falta de segurança, por sua vez, também comentados, seriam sanados por meio da requalificação do espaço físico a partir das intervenções sugeridas. A valorização das atividades realizadas no Conic e a criação de novas formas de lazer e cultura atrairiam mais pessoas para o seu interior, mantendo-o vivo e consequentemente, mais seguro. Novos usos aos espaços que hoje apenas conectam o Conic aos demais setores foram propostos, refletindo aquilo que acontece no interior do Conic: parque para skatistas, cinema ao ar livre, espaço para shows e performances, mercado, hortas, bares, arte urbana, etc.
Após a apresentação do projeto para a comunidade, a adesão foi imediata, uma vez que a comunidade se enxergou no projeto. A colaboração na execução do mesmo, a partir das propostas de autoconstrução, criaria uma relação ainda maior entre o espaço e a comunidade, reanimando sentimentos de afeto e de cuidado com o Conic. Dadas as ferramentas para a comunidade, ela mesma pode se empoderar na tomada das decisões, transformando o projeto, uma vez que ele não é estático nem determinista. A repercussão do projeto foi muito positiva, apresentado no Ossubuco, Abramente e no 1º Congresso Internacional de Espaços Públicos em Porto Alegre (2015), premiado internacionalmente no concurso Reimagina la ciudad (2015) e selecionado pelo Archdaily Brasil entre os melhores TCCs do Brasil e de Portugal em 2016.
O lado B da W3 - Primeira Parte
Nara Cunha
A Avenida W3 nasceu juntamente com Brasília e, assim como a capital, sofreu alterações ao longo do tempo. Apesar de estar localizada no Plano Piloto, paralelamente ao eixo rodoviário, e ser seu maior corredor de transporte público[1], a avenida não é tratada como tal. Faltam espaços públicos acessíveis, arborizados e mobiliário urbano, o que gera muitas discussões em relação a sua caracterização e preservação. A parte sul, construída e ocupada primeiramente, apresenta habitações de um lado e comércio do outro. Já a W3 Norte apresenta configuração diferente: comércio de um lado e uma rua de serviços do outro. Esta rua, comumente chamada de “W3 e meia”, e seu entorno são o objeto deste projeto. A área possui grande potencial, porém, suas características físicas e padrões espaciais não são adequados, o que dificulta sua apropriação pela comunidade. Assim, a partir de análises, escolheu-se um trecho da via localizado na “ponta” da Asa Norte, para se iniciar um modelo de requalificação das quadras 715 e 716 Norte por meio do processo participativo.
Tal processo foi de extrema importância para se conseguir entender a real demanda da comunidade local, além de levantar reflexão sobre uso, conservação e valor da “W3 e meia” para seus frequentadores. Para isso, durante o desenvolvimento do projeto, baseado na metodologia do grupo Periférico, foram utilizadas estratégias para o envolvimento comunitário e táticas urbanas, como o uso de painel interativo, questionários, piquenique comunitário, reunião com a comunidade com o jogo dos padrões e passeio guiado. Esta última atividade citada foi a primeira realizada, quando entrou-se em contato com alguns
membros da comunidade. Depois, juntamente com as análises morfológicas, os questionários foram elaborados e aplicados. Eles foram importantes para descobrir de forma mais direta e exata o que os representantes de várias partes pensam do local e o que almejam para ele, no total, 43 questionários foram aplicados. Em seguida, ao se perceber que os usuários da parada de ônibus não respondiam aos questionários por estarem com pressa, um painel interativo perguntando o que eles gostariam que existisse no espaço onde a parada de ônibus é localizada foi colocado na mesma. Durante as duas atividades com a comunidade, o piquenique e a reunião, obteve-se um diálogo mais profundo sobre as necessidades dos participantes e as características consideradas boas e ruins por eles, como tranquilidade, enchentes, segurança, estacionamentos, espaços de lazer, entre outros. Portanto, a aproximação da comunidade, além de ter sido fundamental para o desenvolvimento do projeto, ajudou também os participantes a conhecerem melhor seus vizinhos e olhar as características ambientais da “W3 e meia” de uma maneira diferente e direcionada.
Dessa forma, juntamente com o diagnóstico elaborado da área e seu entorno, o resultado foi uma proposta de requalificação da área em três escalas: a escala da via, a escala maior - da praça - e a escala dos espaços pequenos - becos, estacionamentos e espaços entre os prédios. Estes espaços foram percebidos através de análises de configuração morfológica e topoceptiva, pois formam uma repetição de elementos. Assim, o projeto visa melhorar a qualidade de circulação, aumentar a movimentação de pedestres, criar estruturas que possibilitem lazer e contemplação para a população, utilizar técnicas de infraestrutura ecológica para amenizar enchentes, embelezar os espaços públicos e deixá-los acessíveis para todos, sem que a “W3 e meia” perca sua identidade, para que a comunidade continue se identificando com a área.
Partindo dessas ideias gerais, para a escala da via, o projeto sugere nova “W3 e meia”, um espaço compartilhado entre todos os meios de transportes, e com elementos de acalmamento de trânsito (traffic calming), que também são elementos paisagísticos e de drenagem. Para a escala maior, onde há uma parada de ônibus muito utilizada e um grande espaço verde subutilizado, sugeriu-se a valorização de seu fluxo e dos usuários da parada, com maior cobertura para a espera do ônibus, mais quiosques do mesmo padrão dos que existem no local, além das atividades demandadas pela comunidade. Os espaços menores, em sua maioria, são de conexão, e, de acordo com a frequência de seu uso, foram propostos elementos para marcar e melhorar seu fluxo, além de pequenas intervenções de lazer e contemplação. Além dos resultados projetuais, os resultados com a comunidade resumiram-se na abertura de reflexão e diálogo sobre o que os frequentadores da “W3 e meia” querem para a via. Por fim, acredita-se que, com o diálogo e a participação da comunidade, é possível realizar uma proposta que atenda funcionalmente suas demandas, além de seu engajamento em relação à área.
A rua do jovem no Varjão - Projeto de intervenções urbanisticas e culturais no Varjão por meio de processo participativo
Natália B. Magaldi
O Varjão do Torto, em Brasília, é caracterizado pela grande concentração de crianças e jovens, os quais possuem o hábito de permanecer nas ruas durante os dias. Esses jovens são vítimas da falta de espaços públicos interessantes e da falta de atividades destinadas a eles. Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Distrito Federal - PDAD/DF 2013, realizado pela Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal - CODEPLAN, naquele ano o Varjão contava com cerca de 9.200 habitantes, sendo que mais da metade da população (50,89%) era constituída por crianças e jovens de 0 a 24 anos de idade. De outro lado, no que se refere aos aspectos turísticos da região, observou-se que dos 94,47% dos domicílios pesquisados, os moradores declararam que não existe atrativo turístico na região. Em razão disso, não é difícil encontrar inúmeras pessoas, dentre as quais muitos jovens, passeando pelo bairro ou sentadas em bares.
Dito isso, este projeto buscou promover uma requalificação dos espaços públicos do Varjão, de forma mais detalhada na Avenida Principal, Praça Central e Área de Múltiplos Usos e definindo diretrizes gerais para os demais espaços, por meio da participação popular dos jovens.
Demonstrou-se o processo da participação dos jovens visando estabelecer uma conexão entre os espaços públicos e o atendimento das necessidades do grupo alvo. Percebe-se o valor que a população dá ao espaço onde está inserida quando os próprios habitantes participam do seu processo de planejamento e se apropriam futuramente daquele lugar.
Agregaram-se metodologias a fim de inserir os jovens no desenvolvimento do projeto. Propôs-se, dentre outros, caminhada com os jovens, elaboração de mapas mentais, inserção de diretrizes por meio de padrões espaciais no mapa do Varjão e confecção de uma maquete coletiva.
Durante o processo, com o apoio da Administração Regional do Varjão e a mobilização da comunidade, organizou-se uma rua do lazer, a qual recebeu o nome de a “Rua do Jovem”, que contou com a parceria do coletivo Rodas da Paz e com participação de diversos membros da comunidade na realização de oficinas e atividades voltadas para os jovens.
O projeto, portanto, sugere a intervenção na Avenida Principal, transformando-a em via de mão única, com a criação de um sistema binário com a rua paralela, que também corta a cidade, além de um projeto de uma ciclovia que atenda ao crescente número de habitantes que fazem uso da bicicleta como meio de locomoção. Buscou-se também a delimitação de reentrâncias e curvas em “zig-zags” ao longo da via, a fim de traçar uma estratégia para “acalmar o tráfego” (traffic calming) a partir da necessária redução das velocidades dos veículos. Realizado o desenho da Avenida nesse molde, fez-se possível a criação de jardins de chuva, responsáveis por auxiliar na absorção das águas pluviais, além de criar espaços agradáveis e sombreados ao longo das calçadas.
Além disso, ao longo da Avenida Principal, identificaram-se espaços temáticos, nos quais foram propostas pequenas intervenções fazendo-se uso de materiais recicláveis e/ou de fácil acesso, e arte urbana. Assim, criaram-se a Praça do Bosque, o Beco do Rap e a Praça da Mangueira.
Por fim, a “Rua do Jovem no Varjão” hoje faz parte dos eventos Administração Regional do Varjão que tem a intenção dar continuidade em 2016. A proposta inicial é que a cada último Domingo do mês, um trecho da Avenida Principal seja fechado para o trânsito de carros, e uma pequena intervenção ocorra em algum dos espaços públicos, aqui estudados através de oficinas.
Corredor Cultural do Cerrado
Caio Monteiro
O trabalho nasce a partir do interesse em compreender o ofício do Urbanismo por uma outra perspectiva. Usualmente por uma outra perspectiva. Usualmente, se tem o planejamento urbano como uma série de diretrizes elencadas após uma análise do contexto e das condicionantes do espaço. No entanto, o entendimento urbano se dá, aqui, pela forma como a comunidade se apropria e entende
sua vivência na cidade. De forma emergente, as diretrizes do Corredor Cultural são definidas principalmente por quem utiliza o espaço, conhecendo sua história, suas particularidades, problemáticas e potencialidades. Um projeto que se constrói pelo diálogo, apropriando-se da expressão afetiva e bagagem sociocultural do Lugar. É o modo como a mesma se organiza, se desenvolve e evolui enquanto dinâmica social. Sem cultura um povo não se define, e resgatar as riquezas imateriais de qualquer comunidade é trazer à luz sua identidade. O Corredor Cultural do Cerrado busca exatamente esse resgate: da história sertaneja, das tradições Kalungas, do conhecimento popular e da natureza presente. Que a cultura do Goiás se desdobre ao longo das ruas de Cavalcante, exibindo seu Cerrado, seu povo e sua história!
PRAÇA DO ESTUDANTE DA CEI, rolezinho central.
Kariny Nery
Com o objetivo de valorizar e reafirmar o espaço público na área central da Ceilândia-DF, a Praça do Trabalhador, buscou-se analisar, por processo participativo, as potencialidades locais e a diversidade cultural e social para auxílio das diretrizes finais da proposta. Nesse sentido, não se estabelece uma relação direta entre o movimento Rolezinho, iniciado em São Paulo, mas busca-se entender a geração de jovens que se encontram em situação de
desfavorecimento social, cultural e espacial. Considera-se, portanto, o” rolezinho” como uma apropriação do espaço público concedido ao cidadão por direito. O processo participativo se deu por meio da aplicação de questionário, realização de mapa mental, produção de eventos (o piquenique e o samba da Cei), mapeamento dos padrões, oficina de horta urbana, oficina de fotografia sob a ótica negra, painel interativo, pintura de praça, mobiliário de pallet e oficina de realização de proposta de projeto para a praça.
Os movimentos sociais no direito àcidade:
Desenho coletivo dos espaços livres públicos no assentamento MTST em Nova Planaltina
Cristina Nakamura Araujo
PROBLEMA
Houve neste trabalho a intenção de colaborar com a luta dos movimentos sociais por moradia através da troca de conhecimento técnico e popular, e da interação com os agentes públicos, privados e a comunidade envolvida. Essa trajetória inclui o entendimento da complexidade da luta dos movimentos e de suas reais necessidades, assim como a reflexão sobre o atual papel do arquiteto urbanista na sociedade, pelas suas limitações como agente produtor de um espaço justo e pela busca por novas alternativas de construir o acesso de baixo para cima à cidade.
DEMANDA
A partir da demanda primeira de uma agrofloresta comunitária trazida pelos moradores, foi concluída a necessidade de complementar o projeto de regularização fundiária em desenvolvimento pela CODHAB para oferecer mais urbanidade e qualidade a estas famílias. Neste caminho, foram levantadas também reflexões sobre o sistema alimentar no direito à cidade e como formas de soberania e resistência.
Dessa forma, pautado pelos fortes aspectos ambientais que marcam a região, o trabalho consiste em um projeto urbano com foco nas áreas livres públicas construído de forma participativa com os moradores do Movimento dos Trabalhadores sem Teto de Nova Planaltina, no Setor Habitacional Mestre D’armas I.
OBJETIVO
Tem-se como visão que a área destas famílias seja mais que um espaço dormitório. Seja um espaço de convivência plena, garantindo além do direito à moradia adequada, o acesso a espaços de convívio e lazer de qualidade, o fortalecimento do sentido de pertencimento e identidade, a diminuição dos conflitos socioambientais, e a promoção da autossuficiência alimentar.
MÉTODO
Este documento foi dividido em três partes. A primeira, relata a problemática urbana com foco na luta dos movimentos sociais por moradia. Em seguida, a segunda parte faz uma análise e um diagnóstico da área, utilizando a metodologia das dimensões morfológicas e do mapa de atores, a fim de verificar se o local satisfaz as exigências cotidianas, e se garante o direito à cidade. Já a terceira, é destinada ao produto que resultou das análises da pesquisa-ação feitas nas partes anteriores. Aqui foi usada a metodologia do zoneamento e design permacultural juntamente com os padrões espaciais de Christopher Alexander.
Para as oficinas participativas, tanto na fase do diagnóstico quanto no desenvolvimento do projeto, utilizou-se a metodologia própria do grupo “Periférico, trabalhos emergentes” da FAU/ UnB.
RESULTADOS
O produto neste contexto é entendido como a troca com as famílias proporcionada pelas oficinas; como o processo participativo na discussão de propostas e assim, a construção de soluções emancipatórias e de autogestão. A base criada neste presente processo documentado, no entanto, é apenas uma parte do trabalho, que não deve ser encerrado aqui, no tempo acadêmico, mas desenvolvido em suas próximas etapas no contexto temporal condizente com o dos moradores.
A Vila Que Reinventamos
Caio Fiuza
O objetivo desta pesquisa é identificar os padrões de urbanismo emergente na Vila Cultural da 813 Sul, definindo diretrizes para o local através do processo participativo. E através desse estudo, conscientizar os habitantes da vila quanto à regularização fundiária, à sustentabilidade ambiental e o direito à cidade, de forma a auxiliar também na articulação entre os moradores, reforçando a importância da força coletiva nos processos de resistância da comunidade.
A Vila Cultural é um assentamento informal que surgiu em meados de 1980. Assim como a Vila Telebrasília, a Vila Planalto e a Candangolândia, é uma das poucas áreas da cidade onde permaneceu e resistiu o urbanismo emergente. Conhecida também como Vila das Nações ou Vila Cobra Coral, o local abriga a sede de alguns coletivos voltados à educação sociocultural e à promoção da cultura popular dentro do Distrito Federal.Assim como o Mercado Sul, em Taguatinga, outra importante ocupação cultural do DF, a Vila Cultural se caracteriza por seu uma ocupação do ponto de vista da arte e do ponto de vista dos movimentos sociais também. Segundo Rolnik (2016), as ocupações que representam esse duplo movimento, além de resistir por habitação, almejam ressignificar lugares públicos menosprezados, o que simboliza não só uma luta pelo individual coletivo, mas também pela apropriação do espaço da cidade a fim de permitir que a população o reconheça e nele intervenha.E esse movimento é especialmente importante quando se trata de uma ocupação instalada dentro dos limites do Conjunto Urbanístico de Brasília, como é denominada a área tombada da capital. A própria presença da vila no PLano Piloto é também resistência, considerando a sua localização em um espaço urbano que historicamente visou a segregação e diferenciação da sua população, desde o momento em que a cidade nasceu.
Circuito Cultural e de Lazer
Raquel Braz
Clique para acessar o trabalho
A escolha da área deste trabalho se deu pela necessidade de áreas livres, arborizadas e pela carência de espaço para cultura e lazer. A cidade de Valparaíso de Goiás, cidade dormitório, carece cada vez mais de espaços comunitários para jovens, adultos e crianças. Valparaíso emancipou-se a pouco tempo da cidade de Luziânia – GO e com apenas 20 anos, ainda procura se estruturar. Atualmente, é a cidade que mais cresce no entorno de Brasília e ainda enfrenta a dificuldade para concessão de áreas livres públicas, pelo seu histórico de rápido crescimento, devido à construção de Brasília.
A inexistência de planejamento antecipado das áreas que deveriam ser destinadas a praças, escolas, hospitais, e todos os órgãos institucionais, faz com que os projetos sempre sejam locados em espaços remanescentes. Tendo em vista o problema da falta de espaços de lazer, o projeto Circuito Cultural de Lazer procurou atender a população, sugerindo propostas de melhorias dos espaços ociosos a partir do envolvimento da comunidade no processo por meio de questionário e dinâmicas. O resultado engloba a recuperação das regiões não utilizadas por falta de segurança, visando mais vitalidade urbana nos becos existentes, mobilidade mais sustentável, áreas de compostagem de resíduo orgânico, infraestrutura verde e produção de alimentos no parque linear proposto para promover um corredor ecológico paralelo à linha de trem (Figuras 1, 2 e 3). A intervenção teve início com promoção da arte urbana como um meio de integração entre as classes sociais, e visando o bem-estar de toda a comunidade, na tentativa de ressignificar os espaços criando um sentimento de pertencimento e afeto pela cidade que moram.
Para avaliação e soluções projetuais foram utilizados os métodos do Processo Participativo e os Princípios das Dimensões da Sustentabilidade e das Dimensões Morfológicas, que são classificadas em: Sustentabilidade Ambiental, Sustentabilidade Social, Sustentabilidade Econômica e Sustentabilidade Cultural e Emocional.
O projeto conta com ruas verdes e criação de espaços arbóreos, hortas comunitárias e paisagismo produtivo, tendo em vista a carência de áreas verdes da cidade como um todo. Reaproveitamento de águas servidas e acesso à água com a criação de pequeno lagos, atendendo a Sustentabilidade Ambiental.
De acordo com a Sustentabilidade Social, foram propostos vários espaços comunitários para interação entre classes sociais e diferentes faixas etárias, assim como a acessibilidade, inexistente na região. Criação de equipamentos públicos para melhor comunicação entre as vias separadas por uma linha férrea. Mudança do sistema viário e criação de calçadas para atender o pedestre. E por fim a promoção do sentimento de pertencimento ao local devido à participação da comunidade, tornando-os responsáveis pelas decisões de projeto.
Considerando a Sustentabilidade Econômica, o projeto foi posicionado em áreas remanescentes, bem como um corredor livre ao lado da linha férrea da cidade, com pavimentação permeável e rede de drenagens. Propondo iluminação para uso noturno do parque e equipamentos públicos para lazer da comunidade, além do aumento de comércios abertos em diferentes horários para segurança local e diversificação do uso do solo que é basicamente residencial.
A Sustentabilidade Cultural e Emocional foi definida através da criação de uma identidade própria para a cidade recuperando e valorizando a infraestrutura existente, dando ênfase na arte urbana que é bastante visível no local. Pela criação de marcos visuais e estruturação dos becos, transformando-os em espaços comunitários e seguros, mantidos pela comunidade. Sendo possível assim a geração de laços afetivos pelo bairro e consequentemente pela cidade.